Liberdade e Consciência

 

É para a liberdade que cristo nos libertou (Gl 1, 5)

 neste espírito pascal que se aproxima, refletindo sobre  frases que nós usamos com muita facilidade, mas não sei se compreendemos com profundidade: “O Senhor ressuscitou. O Senhor nos li

bertou.”

Mas, de que? Somos livres para que? Como podemos disser que somos livres?

Com muita freqüência recomendamos: examinem a consciência.

O que é consciência? Se existe consciência, por que insistimos no errado?

O problema é que nossa consciência pode estar danificada, e continuamos com o mal e o pecado co-habitando em nós.

São Pedro nos diz: “Pois o batismo não serve para limpar o corpo da imundície, mas é um pedido a Deus para obter uma boa consciência, em virtude da ressurreição de Jesus Cristo.” (1Pd 3, 21)

Somos livres na pratica do bem. É para a liberdade que Cristo nos libertou, mas uma liberdade que embase a ressurreição em Jesus, uma libertação em Jesus, um sepulcro vazio em Jesus, uma liberdade que deve nos levar a uma boa consciência.

Deus nos deu o chamado “livre arbítrio”, que é a liberdade de fazermos escolhas, de agir ou não agir, de fazer as coisas ou não fazer. Essa liberdade alcança a sua perfeição quando esta em profunda sintonia com Deus.

O fato da pessoa dizer que fez algo coagido, porque as circunstâncias o levaram agir de forma errada, não justifica e não a livram da responsabilidade e das conseqüências de seu erro,  pois fez mau uso do seu livre arbítrio e não ouviu a voz de Deus que fala na consciência.

Os pais são os primeiros responsáveis na educação da consciência moral dos filhos e não devem se eximir disso, primeiro pelo testemunho, segundo por criar um lar de ternura perdão respeito e fidelidade. Educando os filhos de forma virtuosa e para isso é preciso ter domínio de si, é necessário dar bom exemplo aos filhos, com o custo de se criar filhos sem consciência moral, se as crianças, os adolescentes estão crescendo com a consciência desvirtuada é porque não conseguiram aprender dos seus primeiros professores. É necessário que os pais  corrijam, cuidem e orientem os filhos segundo uma lei divina. (Ef 6, 4.) É preciso edificar e levar os jovens ao amadurecimento, ao uso correto da liberdade e da razão.

Deus criou o homem de tal forma que deixou a decisão da sua vida entregue em suas mãos, como diz no Livro do Eclesiástico: Deus criou o homem e entregou a suas próprias decisões (Eclo,15, 14). Então, os atos levam a imputabilidade, o que fazemos tem conseqüências para nós, para os outros e para nossa salvação.

Deus é misericordioso, mas respeita o nosso livre arbítrio.  Deus é bondoso, mas sofreremos as consciências do nosso livre arbítrio, porque Ele nos deixou o homem nas mãos de suas próprias decisões.

O caminho para se tomar decisões certas é  endireitar a consciência, endireitar a vontade pela razão.

No nosso dia-a-dia temos que tomar decisões, não estamos protegidos por uma retoma, temos que usar nosso livre arbítrio e nos valer de nossa liberdade, mas como não errar? Como fazer as escolhas certas?

O  ser humano, pode ou não seguir a Deus, é nossa decisão também. Enquanto não estivermos em plena sintonia com Deus, enquanto não estivermos absorvidos em Deus,  podemos escolher o bem e o mal. Crescer na perfeição para Deus ou definhar no pecado. A decisão é nossa.

Não é por acaso que o primeiro Salmo fala dos dois caminhos, o da perfeição ascendente a Deus, ou o do ímpio que definha no pecado e na mentira.

Quanto mais praticamos o bem, quanto mais nossas opções forem para o bem, mais nos tornamos livres. A liberdade é fruto das escolhas boas. As escolhas para o mal nos tornam escravos. Livres para servir, é a nossa opção concreta para o bem.

Na vida  não conseguimos ficar sem pender para um lado. É visível, se uma pessoa toma o caminho do mal, vai piorando em todos os aspectos, se opta pela mentira, outros pecados se agregam e a pessoa se torna mais má, mais maquiavélica  e mais demoníaca. Não porque Deus quis,  Deus não predestinou nada, a escolha da pessoa em suas sucessivas opções, a mentira, ao adultério, a fornicação, ao perjúrio, e a injustiça levaram-na a agregar sobre si uma energia do mal que a fez escrava do demônio e perdeu a luz, perdeu a graça, perdeu o brilho de Deus e ficou aprisionada no mal.

A liberdade que Jesus conquistou na cruz quebrou o pecado de Adão, e nos deu a chance de escolher o bem. E mesmo Cristo tendo vencido a morte e derrubado o diabo, Ele não pode interferir no que o Pai criou: o homem e a mulher livres para tomar suas próprias decisões.

A vitória está ganha em Cristo, a liberdade foi conquistada, mas sair do cativeiro depende de nós.

O livre arbítrio, a liberdade que foi um presente de Deus tem graves implicações, pois  nos torna responsáveis pelos nossos atos.

Pessoas virtuosas são aquelas que se esforçam para o conhecimento do bem, que buscam na ascese, na oração o discernimento de seus atos. Na psicologia se usa o temo “se ter nas mãos”, na espiritualidade é o conhecimento de nossa consciência moral.

Qualquer ato tem suas conseqüências, e implicam numa responsabilidade de alegria ou de dor.

Se somos infelizes a culpa não é de Deus, e sim de nossas decisões mal tomadas. 

Podemos passar por fortes  provações e sermos felizes. Podemos sofrer graves enfermidades e sermos serenos, mas podemos ter tudo e sermos infelizes.

De que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a si próprio,  disse Jesus. Ele sempre esteve em profunda sintonia com o livre arbítrio do homem, tanto que não impôs o seu seguimento, mas disse: “Se alguém quiser ser Meu discípulo, tome a sua cruz e siga-Me” (Mc 8,34).

Na ultima refeição com os apóstolos, podemos imaginar a angustia de Jesus, sabendo que a seu lado estava o traidor, Jesus ainda tentou salvá-lo, dizendo: “Quem vai me trair é aquele que comigo põe a mão no prato” (Mt 26, 23), mas não pode interferir, teve que contar com o livre arbítrio de Judas. A decisão foi de Judas.

A liberdade que nós cristãos temos, nem Deus na sua onipotência nos tirará, nem Jesus no seu ato redentor nos tirou. Ele nos abriu a porta, e quebrou os grilhões, mas sair depende de nós.

A liberdade do cristão não é o direito de fazer tudo e o que quer, não temos esta liberdade, porque que na liberdade está o bem.

A ignorância pode diminuir a gravidade de um ato, mas não apaga a violência.  Agir por medo por coação por desequílibrio psíquico ou social diminui, mas não apaga a culpa.

Se  nos é oferecido sanar a ignorância a luz da Palavra, e não aceitamos é o pior tipo de ignorância e aumenta a gravidade de nossos atos, porque estava a nosso alcance conhecer a verdade e nós na liberdade de nossas decisões não aceitamos.

A liberdade é uma faca de dois cumes, é algo que pode ser nossa redenção ou nossa perdição completa.

Dar senhorio a Jesus e segui-lo, é submeter a nossa liberdade, a nossa vontade à Dele, porque Ele é  o Senhor. Foi assim, entre Jesus e o Pai, a vida de Jesus não foi tirada, Ele a entregou livremente, em favor dos homens, por amor ao Pai.

Deus nos quer, mas Ele não nos obriga, é uma decisão pessoal voluntária, sem coação, sem medo.

Nós temos a liberdade, e se nos dizemos cristãos batizados, devemos entregamos nossa liberdade ao discipulado de Jesus.

E porque somos cristãos católicos, não só entregamos nossa liberdade a Jesus, entregamos à Igreja. A liberdade dada a Cristo e por sua vez a igreja, é compreender que Ele é grande, e dizer que nós em nossa pequenez, na nossa razão limitada não O alcançamos, mas O aceitamos.  

Discernir  nossa liberdade, nossa vontade e a vontade de Deus é outro problema sério da nossa consciência.

A consciência moral que  temos é o julgamento da razão, é o julgamento que fazemos sobre uma ato que fazemos ou que planejamento fazer. A consciência é quem vai nos dizer se é justo, correto, ou injusto e mau. Este dispositivo esta em nossa alma, é a essência divina em nós. É uma lei do nosso espírito que ultrapassa a nós mesmos. A consciência é como sacrário em que Deus nos fala.

Se os princípios que nos movem, não são de Deus,  a liberdade ao invés de nos levar a perfeição levará para o abismo

A consciência tem que ser educada, esclarecida, reta, formada pela  razão. A paixão não é contraria a razão, mas a razão tem que ter domínio sobre a paixão. Talvez a paixão nos mova, mas quem decide tem que ser a razão. A paixão mal usada pode nos levar a perdição.

Temos que nos cuidar, porque vivemos no mundo, e somos continuamente influenciados negativamente na formação de nossa consciência.

Formar a consciência é uma tarefa para toda a vida. A educação, a busca da virtude, e da prudência tem que nos levar a cura do medo, por mais que, num primeiro momento, a pessoa vá a Deus por medo do inferno, por atrição pode ser um primeiro passo, mas a busca de Deus não pode ser na atrição, tem que ser contrição.

Nossa relação com Deus deve ser baseada no amor e não no medo. Deus nos quer como amantes devotados que coloquemos Nele  nossa liberdade.

A cura do medo, do egoísmo, da culpabilidade é uma questão de treinamento,  de exercício. Quem consegue um nível de consciência reta, encontra a paz.

Os instrumentos mais eficazes para formar bem a consciência, são:

a Palavra de Deus, a oração que nos amadurece na fé e nos leva a prática da fé. A confrontação com a cruz de Jesus. Nossa consciência é esclarecida dom os dons do Espírito Santo, pelos bons conselhos dos outros, e pela orientação autorizado do magistério da Igreja.

Formar uma consciência reta não é difícil, mas requer esforço.

Somos chamados também a interpretar os sinais, deixar que as circunstancias nos de seus avisos, pois Deus se faz perceber nos fatos históricos e às vezes fechamos nosso olhos a isso.

A consciência boa se esclarece na fé, e se apóia na caridade, enquanto os atos ruins se apóiam na ignorância e no pecado.

Quanto mais caminhamos numa consciência reta para o bem, mais livre seremos.

Estamos no processo de conversão, não em pequenos gestos, mas de uma conversão interna. A conversão se realiza na vida e no dia a dia. Conversão no exercício  com os pobres, consciência reta na defesa da justiça. Consciência lúcida na correção fraterna, consciência atinada na revisão diária de nossas vidas, no exame de consciência, no direcionamento da liberdade na aceitação do sofrimento, tomar a cruz cada dia e seguir Jesus.