Em defesa da vida

Ao assumir a natureza humana, o Filho de Deus uniu-se a cada um de nós.  Demonstrou, dessa maneira, que cada pessoa tem um valor infinito. Como seus discípulos, somos chamados a respeitar, defender e servir a vida, especialmente a humana. Na verdade, já muito progredimos: em cada país e em cada cultura manifesta-se de modo próprio a alegria pela vida que nasce, o respeito por quem passa necessidade, a solidariedade com o idoso, a participação na tristeza de quem está de luto, a esperança na imortalidade etc. Esses sentimentos nascem da convicção de que a vida humana tem um valor único. Mas há, também, desafios nesse campo. Talvez, como em nenhum outro momento da História, há necessidade de se defender a vida, pois ela está ameaçada. Está ameaçada, inclusive, por quem deveria protegê-la: pelo Estado, que se julga no direito de aprovar leis que favorecem o aborto; pela família, chamada a ser o “santuário da vida” e em cujo seio se toma, não poucas vezes, a primeira decisão contra sua preservação; por profissionais da saúde, notadamente médicos, que deveriam estar sempre a seu serviço (o juramento de Hipócrates não é nessa linha?), mas que são capazes de produzir frases como as que se ouviu na recente reunião do Conselho Federal de Medicina, realizada em Belém – PA, da boca de seu presidente: “Somos a favor da vida, mas queremos respeitar a autonomia da mulher que, até a 12ª semana, já tomou a decisão de praticar a interrupção da gestação”. Imaginem se ele fosse contra a vida…

Quando ainda no seio materno, a vida humana é frágil, privada de qualquer capacidade de defesa. Mesmo assim, invocam-se pretensos direitos para exterminá-la, esquecendo-se de que o primeiro direito a ser respeitado é o da própria criança, o de poder nascer. Contra essa mentalidade, fruto de uma execrável “cultura de morte”, vale recordar uma observação do bem-aventurado Papa João Paulo II: “Como é possível se falar da dignidade da pessoa humana, quando se permite matar a mais débil e a mais inocente?” (18.12.87).

Em resposta à cultura de morte, que ganha novos espaços em nossa sociedade, é preciso estimular a cultura da vida – isto é, o trabalho de pessoas, grupos, movimentos e organizações para ajudar e amparar as pessoas mais fracas e indefesas. Na defesa intransigente da vida, nosso trabalho deve pautar-se por algumas verdades fundamentais: 1a – A vida humana começa no momento da concepção; 2a – A vida é sempre um bem. É uma manifestação de Deus, é um sinal da sua presença, é um vestígio de sua glória; 3a – Deus é o único senhor da vida: nem o homem nem a mulher podem dispor dela; 4a – A geração de um filho é um fato não só profundamente humano, mas também altamente religioso. Em outras palavras: a vida humana é sagrada porque, desde sua origem, supõe a ação criadora de Deus; 5a – Nossa vocação é participar da vida eterna, isto é, participar da própria vida de Deus. Essa participação dependerá, naturalmente, do serviço que tivermos prestado à vida aqui, nesta terra dos homens.

Antes que me critiquem, dizendo que o aborto não é uma questão religiosa, mas de saúde pública, lembro que a sociedade e suas instituições devem sempre estar a serviço da pessoa. Existe um conjunto de direitos que ela não pode restringir – porque eles lhe são anteriores – mas, pelo contrário, tem o dever de protegê-los, pois se incluem entre aqueles que hoje em dia se denominam “direitos humanos”. Ora, já lembrei que o primeiro direito de uma pessoa é a sua vida. Estamos, aqui, diante de um bem fundamental. Trata-se de um direito não só precioso, mas que é também condição de todos os demais direitos; por isso, deve ele, mais do que qualquer outro, ser defendido. O respeito pela vida humana impõe-se desde o momento em que ocorreu a concepção. Desde quando o óvulo foi fecundado encontra-se inaugurada uma vida, que não é nem a do pai, nem a da mãe, mas a de um novo ser humano, que se desenvolve por si mesmo – se desenvolve, desde que lhe sejam asseguradas as condições para isso.